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"Hair" aporta no tablado da capital paulista

Musical se consagrou como espelho e uma das principais referências do movimento cultural e comportamental que mudou o mundo nas décadas de 60 e 70

Por: Panorama Brasil

São Paulo

Em plena Guerra do Vietnã, o mundo conhecia as dores e as delícias de uma época sui generis: o amor livre, o rock psicodélico, a filosofia oriental, a descoberta de drogas como o LSD e o estilo de vida dos hippies. Por outro lado, assistia ao primeiro conflito internacional televisionado e se indignava com os horrores da segregação racial e sexual. Neste caldeirão de acontecimentos, "Hair" marcava sua  estreia em um pequeno teatro off-Broadway, em 1967.

Com a passagem do tempo, o musical se consagrou como espelho e uma das principais referências do movimento cultural e comportamental que mudou o mundo nas décadas de 60 e 70. Assinada por Charles Möeller e Claudio Botelho, a montagem brasileira aporta em São Paulo, nesta sexta-feira, no Teatro Frei Caneca, após ser vista por mais de 100 mil pessoas no Rio de Janeiro.

"'Ainda vivemos em guerra e os conflitos são muito parecidos e tão assustadores e sem sentido como o do Vietnã. Da mesma forma que ainda somos cheios de tabus e vivemos na intolerância. O grito de 'Hair' continua ecoando', justifica Charles Möeller, que ressalta ainda todas as rupturas promovidas pelo espetáculo original, com texto de Gerome Ragni e James Rado e música de Galt MacDermot. Entre as novidades, estavam a relação direta com a plateia, uma emblemática cena de nudez frontal, a ausência de cenário e de uma coreografia formal.

"Os autores estavam no lugar certo e na hora certa. Eles encenaram exatamente o que estavam vivendo, colocaram em letra e música aquilo que todos queriam falar. Não fizeram um musical, mas o manifesto de toda uma geração. Canções como 'Aquarius' viraram hinos até hoje", explica Claudio Botelho. Segundo ele, a música é um dos fatores determinantes para a empatia do espetáculo com a plateia. A comunicação imediata é garantida pela mistura do rock — a principal voz dos jovens na época —  com diversas sonoridades, como a música negra, que ainda não era divulgada para as massas, mantras orientais, letras psicodélicas e influências de música tribal.

Elenco primordial

No palco, os atores são os instrumentos responsáveis por esta comunhão com o público. Através de cenas curtas, os personagens – integrantes de uma 'tribo' de hippies de Nova York — apresentam suas personalidades distintas, seus dilemas e seu peculiar estilo de vida. O coletivo é sempre destacado em cena, ainda que a trama principal gire em torno de Claude (Hugo Bonemer), jovem convocado para a Guerra do Vietnã, seu amigo Berger (Fernando Rocha), uma espécie de líder da tribo, a grávida Jeanie (Kiara Sasso) e a idealista Sheila (Carol Puntel). "O personagem principal da peça é a tribo", analisa Charles.

Chegar aos 30 eleitos para compor esta 'tribo' não foi uma tarefa fácil.  Charles Möeller, Claudio Botelho, a coordenadora artística Tina Salles, a produtora de elenco Marcela Altberg, a produtora Aniela Jordan e o diretor musical Marcelo Castro se depararam com mais de cinco mil inscrições para os testes, um recorde absoluto. Depois de uma primeira seleção, eles fizeram 700 audições, em um processo que durou três semanas. "É impressionante observar como a qualidade das audições aumentou em pouco tempo. Há sete anos, quando começamos a fazer testes, apenas 15% dos inscritos eram bons. Em 'Hair', mais de 85% foram excelentes, nunca vi nada igual. Acredito que o grande diferencial desta montagem será a força do elenco", afirma Aniela Jordan, diretora executiva e sócia da Aventura Entretenimento.

Sempre atual

Até hoje, um espetáculo da Broadway leva um certo tempo para ser encenado em outros países. Como mais uma prova do fenômeno coletivo que é "Hair", o musical estreava no Brasil em outubro de 1969. Depois de uma complicada negociação de direitos com os autores americanos e com a censura brasileira, a montagem – dirigida por Ademar Guerra – repetiu o sucesso e causou enorme polêmica na época, menos de um ano após a publicação do AI-5.

As apresentações repercutiam em todo o país e impulsionaram a carreira de artistas como a estreante Sonia Braga. Ao longo da temporada, que durou até 1972, nomes consagrados se revezaram nos elencos, como Antonio Fagundes, Nuno Leal Maia, Aracy Balabanian, Armando Bogus, Ariclê Perez e Ney Latorraca.

Depois de assistir a remontagem da diretora Diane Paulus em Nova York;  Charles Möeller e Claudio Botelho concordaram que era a hora de enfrentar o desafio, dar a visão da dupla para o musical e trazer o mito do espetáculo de volta ao Brasil.  "Vendo a peça, a gente percebe como a juventude é parecida, em todas as épocas. O tempo é muito curto e transitório. Por isso mesmo, o musical continua moderno e, mais do que isso, intenso", conclui Charles.

Serviço:

Hair — Teatro Frei Caneca, a R.Frei Caneca, 569 (Shopping Frei Caneca). Ingressos: de R$ 130 a R$ 160. Informações: (11) 3472-2226

 

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