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Das telas para o palco


Por Elisa Parente
Quem não se lembra da história de amor entre a cantora Francine Evans e o saxofonista Johnny Boyle? Ambientada na América do pós-guerra e celebrando os dias de glória da era das Big Bands, o aclamado filme New York New York (1977), de Martin Scorcese trazia Robert de Niro e Liza Minelli como os protagonistas. A dupla inicia um romance e, ao mesmo tempo, faz parceria artística, passando por momentos turbulentos enquanto busca o sucesso.
O filme virou musical e em agosto, o teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, abre as portas para a segunda temporada de New York New York. A produção brasileira é inédita e ganha traços próprios com a direção de José Possi Neto, coreografia de Anselmo Zolla e Kika Sampaio e direção artística do maestro Fábio de Oliveira. Por seu ineditismo, o espetáculo seguiu caminho diferente às outras tantas produções que aportam por aqui. A estreia, vale lembrar, é no dia 17 de agosto.





"Já que eu estava montando a peça no Brasil, porque não lembrar
 a figura de Carmen Miranda?", diz o maestro.
Foto: MarcosMesquita
"Como montamos um espetáculo do zero, o trabalho foi grande. Maior do que se eu tivesse comprado A bela e a fera, por exemplo, em que o trabalho é de se traduzir textos e música. O resto é seguir receita de bolo", conta o maestro Fábio de Oliveira, diretor musical e idealizador do projeto que custou R$ 5 milhões.

O esforço garantiu uma montagem cênica única. "Por se tratar de uma criação, pude viajar à minha maneira", disse o coreógrafo Anselmo Zolla, que já criou peças para as alemãs Azet Dance Company e Teatro de Mannheim. Para compor as sequências coreográficas, Zolla buscou referências em revistas e livros

"Por se tratar de uma criação, pude viajar à minha maneira",
 disseo coreógrafo Anselmo Zolla
da década de 1970. Baseado no livro homônimo do romancista norte-americano Earl Mac Rauch, lançado em 1977, a trama segue uma linha cômica, diferente do drama de Scorsese, conforme diz o coreógrafo.

A primeira temporada de New York New York chamou a atenção do público. Durante os meses de abril a julho de 2011, o musical atraiu mais de 52 mil pessoas ao Teatro Bradesco, na capital paulista. De acordo com o maestro Oliveira, o título forte e a lembrança da parceria entre Robert de Niro e Liza despertaram a atenção do público. "Curiosamente, muitas pessoas acham que esse musical já existe na Broadway. Quando a Alessandra Maestrini foi entrevistada no programa do Jô, ele também não acreditava que era inédito", diz o maestro.

A nova montagem, porém, será mais enxuta. Terá duas horas de duração, com intervalo de 15 minutos. O elenco principal também sofreu alterações. A atriz Kiara Sasso substitui Alessandra Maestrini, no papel de Francine Evans, e Beatriz Lucci assume a personagem Srta Perkins, interpretada por Simone Gutierrez, na temporada 2011. Completam o elenco, o ator e cantor Juan Alba, como Johnny Boyle e Julianne Daud, que vive Carmen Miranda. A produção conta com 42 artistas, dentre eles 38 bailarinos, cantores e atores e 14 músicos que formam uma genuína Big Band. O musical fica em cartaz até o dia 7 de outubro.


Adaptação

Por se tratar de uma produção inédita no mundo, a criação coreográfica de New York New York foi livre. O diretor de cena José Possi Neto, convidou o coreógrafo Anselmo Zolla para dar um ar contemporâneo às cenas de dança do espetáculo. "Era importante sair dessa imagem que um musical deve ter sempre coreografias de jazz. Anselmo tem um trabalho com a dança contemporânea muito importante e decidi convidá-lo".

O coreógrafo, que contou com a criação de Kika Sampaio nas sequências de sapateado, disse que sempre foi fã dessa época de ouro da música norte-americana. "Sempre ouvi muito, então esse estilo me é familiar. Na parte de movimentação, fomos buscar o estilo da época e transferir para os códigos de agora, colocando minha linguagem em cima da dança contemporânea". Ele defende que, quando musicais já existentes na Broadway ou em outros centros chegam por aqui, trazem consigo um modelo a ser seguido, "como se viessem em um grande embrulho". Nesse caso, o coreógrafo só teria o trabalho de reproduzir, afirma Zolla.

"Eu tive a sorte de criar livremente, sem aquela coreografia estabelecida. Eu e o Possi trabalhamos muito juntos e procuramos pensar no que a obra precisava, qual era a intenção, o motivo", explica o coreógrafo.

Para dar partida ao processo de adaptação, foi preciso paciência. Durante três meses, o maestro percorreu virtualmente todas as editoras pelas quais o livro do escritor Earl Mac Rauch foi publicado. Uma a uma, as respostas eram sempre a mesma: o volume estava esgotado. Certo dia, porém, um representante da edição escocesa enviou o contato do autor. "Resolvi enviar uma carta, já sem esperança de resposta, pois o endereço poderia ter mudado. Um dia, a mensagem chegou e o escritor perguntou como poderia me ajudar. Falou que estava animado com a proposta", diz o maestro.

A recriação brasileira contou com uma escrita a quatro mãos. "Foi legal, pois o próprio autor participou. Ele achava que o Scorsese não tinha explorado a música latina como era preciso. Já que eu estava montando a peça no Brasil, porque não lembrar a figura de Carmen Miranda?", relembra Fábio, já ansioso pela vinda do autor da obra, que confirmou presença na estreia em agosto. Após a temporada 2012, a produção deve sair em turnê por nove cidades brasileiras do sul e sudeste.


A nova montagem, porém, será mais enxuta; terá duas horas e meia de duração

Foto: Marcos Mesquita
O ineditismo da peça, por si, já é um bom motivo para conferir essa adaptação genuinamente brasileira. Em paralelo, a parceria entre o diretor José Possi Neto e Anselmo Zolla, que pode ser vista atualmente no espetáculo Teu corpo é meu texto, também no Sérgio Cardoso, dá a esta produção um vigor único. Vale conferir.

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