Em meados de novembro, as duas cidades consideradas os maiores pólos culturais do país, São Paulo e Rio de Janeiro, apresentam ao público dois grandes sucessos do teatro musical mundial: Hair, na cidade carioca, caracterizado pela imersão no mundo e na ideologia Hippie, e Mamma Mia!, em São Paulo, um musical alegre e descontraído criado a partir de musicas do grupo sueco ABBA, como “Dancing Queen” e a própria musica que dá nome ao espetáculo.
Ambos os musicais são considerados grandes clássicos da Broadway, e, como quase todos os clássicos, possuem custos de produção caríssimas, tornando-se um chamativo pela própria qualidade do cenário, dos figurinos, da orquestra, dos atores e dos efeitos visuais. Afinal, não há alguém que nunca tenha ouvido falar na singularidade das produções dos musicais de Nova York e Londres.
Mas o grande atrativo de um musical do porte de Mamma Mia! e Hair é a própria singularidade da história e das musicas. Mamma Mia! se passa em uma ilha na Grécia e conta a história de Sophie - interpretada por Pati Amaroso -, uma garota que está prestes a se casar e decide bisbilhotar o diário da mãe para descobrir o paradeiro do pai que ela nunca conheceu; acontece que sua mãe, Donna – interpretada pela já conhecida no mundo dos musicais brasileiros Kiara Sasso -, relacionou-se com três homens na mesma época. Sophie então decide convidar para o seu casamento os três “supostos pais”, para descobrir quem é seu verdadeiro pai.
A trama é temperada com 23 musicas do ABBA, que na versão original se encaixam tão perfeitamente com o enredo que até parece que as musicas foram feitas especialmente para o musical. Na versão brasileira, porém, as canções tiveram que ser traduzidas, para que fosse preservado o enredo e a ideia de aproximar o espectador aos personagens daquela família a partir das letras. “Os criadores originais deixaram bem claro desde o começo que não queriam que o musical se tornasse um Tributo ao ABBA, mas sim uma história que se utilizasse das musicas do grupo para ser contada”, comentam o diretores americanos Robert McQueen e David Holcenberg, convidados para ajudar na montagem paulistana. "A nossa idéia é fazer com que o público consiga se identificar com os personagens e, para isso, é necessário que a letra seja compreendida." E apesar do temor de muitos de que as letras em português não ficassem tão boas quanto as originais, quem for conferir a peça vai perceber que a tradução ficou muito boa e agradável aos ouvidos.
O tradutor das musicas do grupo sueco, aliás, é o mesmo que traduziu as musicas da versão carioca de Hair: Cláudio Botelho, que junto com o diretor Charles Moeller ficou responsável pela direção e produção da peça que estreou no último dia 5. De acordo com Botelho, as musicas de Hair, compostas por Galt MacDermot, e as letras e texto, de James Rado e Jerome Ragni, são puramente psicodélicas, e por isso houve a decisão de conservar principalmente a sonoridade das palavras originais ao invés de se ter uma maior fidelidade da tradução. Mas não se pode dizer que músicas como “Deixe o Sol Entrar”, a tradução da famosa “Let The Sunshine In”, tenham deixado a desejar por causa disso. As versões brasileira, inclusive, acabaram se tornando fáceis de entrar na cabeça e fazer as pessoas cantarolar junto com os atores.
O musical Hair, em si, não é apenas uma história de um hippie que é convocado e “forçado” a servir o exército na Guerra do Vietnã. Hair é essencialmente uma celebração à ideologia hippie, tornando-a quase que uma pregação religiosa em prol de uma nova era de paz, amor e libertação de tabus – a Era de Aquário, como anuncia a musica que dá início ao espetáculo. A história da tribo hippie liderada pelo cabeludo Berger e pelo “novo cristo” Claude numa Nova York de 1968 se desenvolve de forma que a sua linearidade fique em segundo plano; os hippies cantam e pregam suas crenças com musicas independentes da trama, enquanto a história da convocação de Claude para a Guerra do Vietnã e de seus questionamentos sobre vida, morte e injustiças se desenrola de forma bem sutil no decorrer do espetáculo.
Mamma Mia e Hair também se utilizam de outra arte cênica fundamental: A dança. A coreógrafa Janet Rothermel, que chegou a trabalhar diretamente com a atriz Meryl Streep na produção do filme Mamma Mia!, afirma que nas coreografias do musical há movimentos de dança dos anos 70, 80 e 90, incluindo disco, hip hop e um toque de movimentação grega. Ela ainda diz que as coreografias daqui e de outros lugares do mundo nunca é a mesma que há em outra produção de outro lugar. “A diferença da qualidade de Mamma Mia aqui e em outros países é que aqui as pessoas têm muita energia e alegria no que fazem, o que conta muito para a peça. Os atores daqui são muito competentes.” Já com Hair, a idéia desde o princípio, quando o musical ainda estava estreando em NYC, era de a coreografia seguir um caminho mais improvisado e não decorado. Na adaptação brasileira, isso também existe, mas os movimentos também são estudados de forma a ser ter uma coreografia relativamente fixa e que apresentasse naturalidade.
Dança, cenário, letras e traduções são aspectos fundamentais que transformaram estes dois musicais duas peças raras. Entretanto, talvez o mais interessante destas peças que chegam ao Brasil é que a partir de elementos antigos, como as musicas do ABBA, que datam dos anos 70, e a ideologia hippie anti-guerra, do fim dos anos 60, foram criados dois musicais ainda assim extremamente atuais. As musicas do ABBA são conhecidas e adoradas mesmo pelas gerações mais novas, e a ideologia pacífica do Hippie até hoje traz discussões sobre até onde ainda vai a intolerância da sociedade e sua sustentação nos tabus. São principalmente esses elementos, antigos e ao mesmo tempo atuais, que fazem a ida a esses teatros tornar-se um evento imperdível.
Rodrigo Correa
1 comment:
OLÁ KIARA ME CHAMO HUGO, NO DIA 14/12 TIVE A POSSIBILIDADE DE ASSISTIR O MUSICAL MAMMA MIA.
QUE DIZER QUE FOI MUITO LINDO E LEGAL, POIS ME EMOCIONEI E DEI RISADAS (NA HORA CERTA), QUE LHE PARABENIZAR VOCÊ E TODOS OS ATORES DO MUSICAL. MUITAS CENAS LEMBREI DO FILME
UM GRANDE ABRAÇO DO HUGO
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